abril 04, 2017

|Just Go| #2 - A Autoestrada Karakoram

Atravessando vales e ravinas, a ligação Paquistão-China através das Karakorams é tão célebre pela sua beleza como pelos seus desafios.

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Créditos: https://devagarsevaimaislonge.blogspot.pt

A Autoestrada de 1200 Km desde Islambad, no Paquistão, até Kashgar, na China, abre caminho pelas ruínas de uma colisão continental que há milhões de anos criou uma das paisagens montanhosas que mais temor inspira na terra. 

Os cumes e vales inquietos são um sonho para geólogos e turistas. As Karakorams foram - e continuam a ser - formadas pela contínua colisão entre Índia e a Ásia Central. Há cerca de 50 milhões de anos, a placa rochosa da Índia, em forma de diamante, a surfar para norte numa pluma de magma derretido, esbarrou em câmara lenta contra a Ásia. Durante um periodo de 20 milhões de anos, uma planicie costeira elevou-se a 5,6 Km, formando uma zona de derrocada que se estende desde o planalto do Tibete. A «onda em arco» geológica da Índia é constituída por quatro grandes cordilheiras - a Hindu Kush, as Pamirs, os Himalaias e no centro, a separar o Paquistão da China, as Karakorams. Aqui erguem-se alguns dos picos mais elevados do mundo, incluindo o segundo mais alto, o K2, com 8611 m e outros 50 acima dos 7000 m. Existem cinco glaciares ao longo de 48 Km, incluindo o mais longo fora das regiões polares. A geologia e o clima aliam-se para tornar este sitio instavel. 

Da estação terminal oficial, Havelian, a autoestrada mergulha no vale do indo, conhecido na região como «Pai dos Rios». Depois do Besham, do Desfiladeiro do Indo, o rio desliza pelas montanhas como uma motosserra de lama - cinco milhões de toneladas todos os dias. A estrada une-se a penhascos até 300 m acima da corrente ou serpenteia pelos vales laterais para evitar subidas impossiveis. Os cumes erguem-se até 5000 m de cada lado, os declives mais altos raramente são visiveis por cima dos vertiginosos penhascos. Em Chila, o desfiladeiro alarga e o rio fica mais calmo. Os viajantes esculpiram nomes e desenhos na rocha, durante 2000 anos.

Gilgit, a Entrada para a China

A cidade de Gilgit foi a porta de entrada durante séculos para a China, até o comercio da seda se extinguir no século XVI. Em 1947, quando a Índia e o Paquistão se dividiram, Gilgit ficou para o Paquistão. 
Hoje, acidade, com as pontes suspensas sobre o rio, é um mercado próspero, cheio de autocarros, camiões e carros a entrar e a sair do Afeganistão, da China e da Índia.

Os táxis abundam, mas não é dificil chegar a pé a qualquer um dos doze hoteis. 

A ligação à Rota da Seda

A estrada faz uma subida longa e suave sobre o desfiladeiro de Khunjerab, a 4934 m. Os autocarros internacionais fazem a viagem completa, mas quem apanhar os locais tem de passar para veículos chineses na fronteira do Paquistão. A estrada desce pelas distantes montanhas Pamir, até ao posto da fronteira chinesa a 100 Km, em Tashurgan. Os hoteis são simples e água quente é um luxo raro. Daqui, os autocarros levam um dia a percorrer os 300 Km até Kashgar, passando por dois grandes picos, Mustagh Ataz, a 7546 metros, e Konggur, a 7719 m, chegando por fim a 80 Km de estrada lisa e plana até Kasgar, ou Kashi em chinês, que em tempos foi uma encruzilhada de estradas da Rota da Seda. Desde a separação da União Soviética, tornou-se de novo um florescente mercado internacional. 


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Créditos: https://desenvolturasedesacatos.blogspot.pt

Camiões paquistaneses com decorações barrocas percorrem a autoestrada entre China e Paquistão.

A construção desta extraordinária autoestrada foi um enorme desafio para os engenheiros que a construíram. Tudo só foi possível devido ao resultado da politica internacional. O trabalho exigiu a remoção de 20 milhões de m3 de rocha e a criação de uma passagem fronteiriça, o Khunjerab, a cerca de 5000 m, altitude suficiente para que os habitantes das terras baixas precisem de oxigénio. Dos 15 000 trabalhadores envolvidos, 400 morreram na construção da autoestrada. Foi inaugurada em 1982 e em 1986 foi utilizada pelos primeiros turistas/viajantes, mas as reparações e os melhoramentos são constantes.

Alguém já se aventurou?
Créditos: O Atlas do Viajante
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